Conto: “Eu Não Sou Perfeito”

A discussão que culminou na separação de Ronaldo e Rafaela foi desencadeada por um acúmulo de tensões e frustrações que vinham se acumulando ao longo do tempo. Ronaldo, em meio à pressão do trabalho, responsabilidades familiares e questões pessoais não resolvidas, não conseguiu mais conter sua raiva e frustração, resultando em um acesso de fúria durante uma discussão com sua esposa. As palavras ditas no calor do momento foram como flechas afiadas, atingindo em cheio o coração de Rafaela e abalando as estruturas frágeis de seu relacionamento. O peso das palavras proferidas por Ronaldo foi insuportável, levando Rafaela a tomar a difícil decisão de se separar, em busca de paz e distância da dor causada pela discussão acalorada.

No dia seguinte, com a mente mais clara e o coração pesaroso, Ronaldo buscou o perdão de Rafaela, reconhecendo seus erros e arrependendo-se profundamente por suas atitudes impulsivas e descontroladas. No entanto, o perdão não veio tão facilmente como ele esperava. Rafaela, ferida e magoada, decidiu seguir em frente sem ele, encerrando o casamento de forma definitiva. Diante da rejeição de Rafaela e do fim de seu casamento, a última frase de Ronaldo ecoou no vazio de sua alma: “Eu não sou perfeito”. Essas palavras simples, carregadas de sinceridade e humildade, revelaram a vulnerabilidade e a humanidade de Ronaldo, reconhecendo suas falhas e imperfeições diante do mundo e de si mesmo.

A jornada de Ronaldo é uma reflexão profunda sobre a fragilidade dos relacionamentos, a importância do perdão e a necessidade de aceitar nossas imperfeições. A separação dolorosa e a resignação diante de suas falhas o levaram a uma jornada de autoconhecimento e crescimento, onde a aceitação de sua humanidade se tornou o ponto de partida para uma nova fase em sua vida.

Conto: “Não me Diga que Meus Sonhos não são Reais”

E Monica, com 19 anos, me mostrou o que era a vida, como era bom viver intensamente e como, principalmente, era bom sonhar. Me mostrou seus planos e eu sempre me via ali, ao lado dela: em locais que eu não imaginava conhecer e em aventuras que eu não sonhava viver. Numa pequena caderneta identificava: locais, horários e aventuras. Numa ordem cronológica minuciosamente escrita com informações até menos irrelevantes, tudo estava ali. Meus dias eram melhores, mais calorosos mesmo no inverno, mais claro mesmo com tempestades.

Com um simples afago na minha cabeça, quando estávamos sentados no único sofá velho (um sofá de camurça marrom, todo desbotado, que ficou melhor porque compramos algumas mantas em Paraty e jogamos por cima para disfarçar como era realmente velho) que havia no nosso minúsculo apartamento de 22 metros quadrados, já me descansava, e ela com toda simplicidade começava a ler algo que tinha escrito, me fazendo viajar e sonhar. O certo é que, cada relato me fascinava e eu sempre me perguntava: como eu nunca tinha imaginado isso?

Nada na sua escrita era proibido. Ninguém poderia lhe dizer o que ela podia ou não podia escrever? E eu queria viver e estar ao lado de Monica todos os dias, todas as horas, todos os segundos. Eu me transportava em suas histórias e cada vez ficava mais feliz por estar junto dela.

Mas a vida é cheia de surpresas, nos prega peças de uma hora para outra. Monica viveu intensamente desde os 17 anos, tentou se refugiar em sonhos e ilusões do que poderia e queria fazer nos próximos anos se sua vida fosse normal. No calor de uma noite de amor, do pequeno e bem desenhado nariz de Mônica surge uma gota de sangue, que quando percebo brinco que chegamos no ápice do amor. Rapidamente ela dá um pulo da cama e antes de chegar ao banheiro, cai lentamente no piso frio do nosso quarto. Não sinto seus batimentos, me desespero e ligo para a emergência. Enquanto sigo para o hospital na ambulância, chorando e soluçando sem parar, sinto a mão de Mônica fria e já sem vida, deslizando por entre os meus dedos.

Abalado abro a pequena caderneta, tentando me agarrar em suas palavras sempre alegres que podem me servir de consolo, e na última página, uma última história não iniciada mas com um simples título começava a ser escrita: “Ao Meu Grande e Único Amor”.

Conto: “A Dança da Solidão”

Quando a pandemia chegou e o mundo se fechou em isolamento, Cláudio viu seu universo de interações sociais desmoronar diante de seus olhos. A impossibilidade de sair, de encontrar os amigos e de viver as aventuras que tanto o preenchiam o deixou à deriva, sem rumo e sem âncoras para se segurar. Os meses se arrastaram lentamente, transformando a vida agitada de Cláudio em um mar de solidão e silêncio. O pequeno apartamento em Fortaleza, que antes era apenas um lugar para descansar entre uma festa e outra, tornou-se uma prisão claustrofóbica onde a presença constante da solidão o sufocava.

A falta de contato humano, de abraços reconfortantes e de risadas compartilhadas foi minando aos poucos a saúde mental de Cláudio. A depressão se instalou sorrateiramente, como uma névoa densa que envolvia sua mente e seu coração, obscurecendo qualquer raio de esperança que pudesse surgir. Cláudio se viu enredado em uma teia de pensamentos sombrios e emoções confusas, sem saber como lidar com a dor e o vazio que o consumiam por dentro. A sensação de estar sozinho no mundo, sem ninguém para compartilhar suas angústias e seus medos, o levou a um abismo de desespero do qual parecia não haver saída.

Diante da escuridão que o envolvia, Cláudio se viu incapaz de reagir, de buscar ajuda, de abrir-se para o apoio que poderia encontrar em amigos, familiares ou profissionais de saúde. A solidão tornou-se sua companheira mais fiel, sussurrando-lhe mentiras e ilusões que o afastavam ainda mais da luz e da vida. Sem acesso às redes sociais, sem conseguir enxergar além de sua própria dor, Cláudio se entregou à reclusão e ao silêncio da solidão. Pediu demissão, abandonou tudo o que conhecia e mergulhou em um isolamento profundo, onde a escuridão da depressão o consumiu por completo.

E assim, em um dia como outro qualquer, Cláudio partiu deste mundo sem alardes, sem despedidas, sem que ninguém soubesse de sua partida. Morreu invisível, como vivera seus últimos meses, afogado na solidão e na dor silenciosa que o acompanharam até o fim. Sua morte foi o triste desfecho de uma história marcada pela falta de conexão humana, pela falta de empatia e pelo cruel peso da solidão que o esmagou sem piedade.

Conto: “Esperando a Morte Chegar”

A doença que acometia Dolores era a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma condição cruel que minava aos poucos sua capacidade de se movimentar e de realizar as atividades mais simples do dia a dia. A ELA havia se instalado silenciosamente em seu corpo, transformando sua rotina e restringindo cada vez mais sua liberdade e autonomia. Os médicos não tinham uma previsão exata sobre quanto tempo de vida restava a Dolores, o que tornava cada dia uma incerteza angustiante. A sensação de estar à mercê da doença, sem controle sobre seu próprio destino, era um peso constante em seus ombros, uma sombra que pairava sobre sua existência e a fazia sentir como se estivesse presa em uma espera interminável pela morte.

A rotina solitária de Dolores se desenrolava entre as paredes de sua casa, onde realizava seu trabalho como engenheira de software em um ambiente virtual que se tornara sua única conexão com o mundo exterior. Os poucos amigos e colegas que ainda mantinha contato não podiam preencher o vazio deixado pela ausência de interações sociais e pela limitação imposta pela doença. Em um desses raros momentos de interação virtual, Dolores se viu envolvida em uma situação constrangedora em uma rede social. Ao tentar se conectar com um antigo colega de faculdade, acabou enviando uma mensagem privada para o perfil errado, expondo de forma inadvertida seus sentimentos de solidão e desespero. A pessoa que recebeu a mensagem, desconhecendo a situação de Dolores, respondeu de forma indelicada e insensível, causando-lhe mais dor e constrangimento.

O episódio serviu como um lembrete doloroso da fragilidade de suas conexões virtuais e da dificuldade de encontrar compreensão e empatia em um mundo cada vez mais distante e impessoal. Dolores se viu mais uma vez confrontada com a dura realidade de sua condição e com a sensação de isolamento e abandono que a acompanhava dia após dia. Enquanto o tempo seguia seu curso inexorável, Dolores continuava esperando a morte chegar silenciosamente em meio às sombras de sua casa, ansiando por um raio de luz que pudesse aquecer sua alma e trazer um lampejo de esperança em meio à escuridão que a envolvia.

A morte de Dolores foi um momento de transição doloroso, não apenas para ela, mas também para aqueles que a cercavam, mesmo que em sua maioria fossem poucos. Sua morte deixou um vazio na vida daqueles que a conheceram, ressaltando a fragilidade da existência e a importância de valorizar cada momento e cada conexão humana. A solidão que a acompanhou em vida se dissipou com sua partida, deixando para trás memórias de uma vida marcada por desafios e obstáculos intransponíveis, além do encerramento de um capítulo de dor e sofrimento, foi também de coragem e perseverança diante das adversidades que a vida lhe impôs.

A lembrança de Dolores perdurou na mente daqueles que a conheceram, recordando sua força interior e sua resiliência diante das provações que enfrentou. Sua morte foi o ponto final de uma história marcada por esperas intermináveis e pela aceitação resignada de um destino que, para ela, parecia estar traçado desde o início deixando para trás um legado de coragem e dignidade em face da adversidade.