Conto: “Pequenas Coisas Perfeitas”

Neste conto vamos detalhar a vida de Vera, uma senhora viúva de 57 anos, e quais as três pequenas coisas que são perfeitas para ela, mesmo num dia em que o mundo parece desabar em suas costas. Vera reza: não pede nada, apenas agradece todos os dias por estar viva e por não faltar nada. Vera ri: por mais que as pessoas pensam que não, mesmo sozinha, Vera é feliz. Vera ajuda: da sua maneira, Vera consegue tempo e disposição para ajudar as pessoas, seja com um aconchegante abraço que oferece aos sábados na avenida paulista ou servindo refeições aos domingos na mesma avenida movimentada de Sampa. 

Vera acordava cedo, como de costume e o sol ainda tímido entrava pela janela do pequeno apartamento no centro de São Paulo, iluminando o quarto simples, mas aconchegante. Aos 57 anos, viúva há quase uma década, ela havia aprendido a encontrar beleza nas pequenas coisas da vida. Não era uma vida de luxos ou grandes aventuras, mas era uma vida cheia de significado e isso bastava para deixar sua vida feliz.

A primeira coisa que Vera fazia ao acordar era rezar. Sentada na beirada da cama, com as mãos entrelaçadas e os olhos fechados, ela não pedia nada. Apenas agradecia. Agradecia por mais um dia de vida, pela saúde que ainda a mantinha ativa, pelo teto que a abrigava e pela comida que nunca faltava em sua mesa. Vera acreditava que a gratidão era a chave para a felicidade, e por isso, cada manhã era um ritual de reconhecimento pelas bênçãos que recebia, por menores que fossem.

Depois da oração, Vera se levantava e preparava o café da manhã. Enquanto o pão torrava e o café coava, ela olhava pela janela, observando a cidade que começava a despertar. São Paulo era uma metrópole frenética, mas Vera encontrava paz no seu cantinho. Ela sorria sozinha, sem motivo aparente, apenas porque sentia que a vida, mesmo com suas imperfeições, era boa. As pessoas costumavam achar estranho que uma mulher sozinha pudesse ser feliz, mas Vera sabia que a felicidade não dependia de companhia constante. Dependia de como ela escolhia enxergar o mundo. E ela escolhia enxergar com gratidão e leveza.

Aos sábados, Vera tinha um compromisso que ela considerava sagrado: pegava seu casaco, colocava um lenço colorido no pescoço e seguia para a Avenida Paulista. Lá, ela se juntava a um grupo de voluntários que ofereciam abraços gratuitos aos transeuntes. Vera acreditava no poder de um abraço. Era uma forma de dizer, sem palavras, “você não está sozinho”. Ela via as pessoas chegarem hesitantes, algumas até desconfiadas, mas saíam com um sorriso no rosto. E Vera sorria de volta, sentindo que, de alguma forma, estava fazendo a diferença.

Aos domingos, o ritual era outro: Vera acordava ainda mais cedo e ia para a mesma Avenida Paulista, mas desta vez para servir refeições a quem precisava. Ela ajudava a montar as mesas, distribuía pratos de comida quente e conversava com as pessoas que ali chegavam. Para muitos, aquela era a única refeição digna da semana. Vera não via caridade naquilo, via humanidade. Ela acreditava que ajudar os outros era uma forma de se conectar com o mundo, de sentir que fazia parte de algo maior.

À noite, de volta ao apartamento, Vera sentava-se na poltrona preferida, com um livro nas mãos e uma xícara de chá ao lado. Ela refletia sobre o dia, sobre as pessoas que havia conhecido, os sorrisos que havia compartilhado e os abraços que havia recebido. E, mais uma vez, agradecia. Agradecia por ter forças para ajudar, por ter um coração que ainda sabia amar e por ter encontrado, nas pequenas coisas, a verdadeira felicidade.

Vera não tinha uma vida de grandes feitos ou conquistas materiais. Mas tinha algo que muitos buscavam e poucos encontravam: a paz de espírito que vem da gratidão, da capacidade de sorrir mesmo nos dias difíceis e da vontade de ajudar o próximo. E, para ela, isso era mais do que suficiente, era perfeito.

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