
Título Original: “Perfect Days”
Elenco: Koji Yakusho, Tokio Emoto, Yumi Asô
Direção: Win Wenders
País Origem: Japão, Alemanha
Duração: 2h3min
⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
Sinopse: a história de Hirayama, um homem que limpa banheiros em Tóquio. Sua vida é revelada ao espectador através da música que ouve, dos livros que lê e das fotos que tira das árvores. O longa explora temas como a solidão, fuga e busca de sentido na vida moderna.
Eu ainda não entendi porque demorei tanto para assistir este filme, é um filme maravilhoso, com uma atuação impecável de Kôji Yakusho e o brilhante Win Wenders na direção. A simplicidade faz o filme ser belo e necessário nos dias de hoje.
Wim Wenders, um dos mestres do Novo Cinema Alemão, nos entrega uma obra de rara beleza e sensibilidade, num filme que é uma meditação poética sobre a vida, a felicidade e a beleza encontrada na rotina e nas pequenas coisas. Com uma estrutura aparentemente simples e minimalista, Wenders nos convida a observar e a apreciar o cotidiano de Hirayama (Koji Yakusho), um zelador de banheiros públicos em Tóquio. Longe de ser um drama de grandes reviravoltas, a narrativa é construída em torno da repetição e das sutilezas, em que cada dia de Hirayama é uma variação do anterior, mas nunca idêntico, revelando a filosofia de que a perfeição não está na ausência de problemas, mas na capacidade de encontrar significado e contentamento em cada momento presente.

O filme se inicia com a rotina meticulosa do protagonista: acordar, regar suas plantas, colocar o uniforme, tomar o café e dirigir para o trabalho. Esse ritual, que poderia ser monótono, é transformado por Wenders em uma dança de gestos calculados e significativos. Hirayama limpa os banheiros com uma dedicação quase espiritual, como se sua tarefa fosse uma forma de arte. Ele é um homem de poucas palavras, mas de grande profundidade e o filme nos permite entrar em seu mundo interno através de seus hobbies e paixões: a fotografia de árvores e a audição de fitas cassetes de rock e folk dos anos 60 e 70. O que poderia ser apenas a história de um homem solitário se torna uma celebração da vida simples. O filme também aborda, de forma sutil, o passado de Hirayama e o contraste entre sua vida atual e sua origem abastada, sugerindo que sua escolha de viver de forma simples foi deliberada e consciente.
A atuação de Koji Yakusho como Hirayama é o coração e an alma de “Perfect Days”. Vencedor do prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes, Yakusho entrega uma performance magistral que dispensa diálogos extensos para comunicar as emoções e a complexidade de seu personagem. Sua interpretação é uma lição de economia e expressividade, com um sorriso sutil, um olhar melancólico ou um gesto delicado, ele transmite um universo de sentimentos, personificando a serenidade e a resignação de Hirayama, fazendo com que o espectador se sinta íntimo de sua jornada interna, mesmo com a barreira do silêncio.
Hirayama não é um personagem trágico; ele é um homem que fez uma escolha e encontra felicidade genuína nela. Yakusho captura essa essência com uma autenticidade impressionante. Suas interações com os personagens secundários — o jovem colega de trabalho, a sobrinha que o visita e o dono da lojinha de música — são carregadas de ternura e profundidade. A cena final, com Hirayama dirigindo enquanto passa por uma montanha-russa de emoções, é um dos momentos mais poderosos do filme e é inteiramente sustentada pela expressividade e sensibilidade de Yakusho. Sua performance eleva o filme de uma simples observação a uma experiência profundamente humana.
Segundo informações o filme arrecadou +- de U$ 25 milhões.
A trilha sonora surpreende é um caso à parte e composta por uma coleção de fitas cassetes que Hirayama ouve em seu carro e cada canção é cuidadosamente escolhida para refletir ou complementar o estado de espírito do momento. A playlist traz músicas como: “Perfect Day“ Lou Reed, “House of the Rising Sun” The Animals, “Pale Blue Eyes” The Velvet Underground, “Sunny Afternoon” The Kinks, “(Sittin’ On) The Dock of the Bay” Otis Redding, “Brown Eyed Girl” Van Morrison, “Redondo Beach” Patti Smith e “Feeling Good” Nina Simone.

