Conto: “Não me Diga que Meus Sonhos não são Reais”

E Monica, com 19 anos, me mostrou o que era a vida, como era bom viver intensamente e como, principalmente, era bom sonhar. Me mostrou seus planos e eu sempre me via ali, ao lado dela: em locais que eu não imaginava conhecer e em aventuras que eu não sonhava viver. Numa pequena caderneta identificava: locais, horários e aventuras. Numa ordem cronológica minuciosamente escrita com informações até menos irrelevantes, tudo estava ali. Meus dias eram melhores, mais calorosos mesmo no inverno, mais claro mesmo com tempestades.

Com um simples afago na minha cabeça, quando estávamos sentados no único sofá velho (um sofá de camurça marrom, todo desbotado, que ficou melhor porque compramos algumas mantas em Paraty e jogamos por cima para disfarçar como era realmente velho) que havia no nosso minúsculo apartamento de 22 metros quadrados, já me descansava, e ela com toda simplicidade começava a ler algo que tinha escrito, me fazendo viajar e sonhar. O certo é que, cada relato me fascinava e eu sempre me perguntava: como eu nunca tinha imaginado isso?

Nada na sua escrita era proibido. Ninguém poderia lhe dizer o que ela podia ou não podia escrever? E eu queria viver e estar ao lado de Monica todos os dias, todas as horas, todos os segundos. Eu me transportava em suas histórias e cada vez ficava mais feliz por estar junto dela.

Mas a vida é cheia de surpresas, nos prega peças de uma hora para outra. Monica viveu intensamente desde os 17 anos, tentou se refugiar em sonhos e ilusões do que poderia e queria fazer nos próximos anos se sua vida fosse normal. No calor de uma noite de amor, do pequeno e bem desenhado nariz de Mônica surge uma gota de sangue, que quando percebo brinco que chegamos no ápice do amor. Rapidamente ela dá um pulo da cama e antes de chegar ao banheiro, cai lentamente no piso frio do nosso quarto. Não sinto seus batimentos, me desespero e ligo para a emergência. Enquanto sigo para o hospital na ambulância, chorando e soluçando sem parar, sinto a mão de Mônica fria e já sem vida, deslizando por entre os meus dedos.

Abalado abro a pequena caderneta, tentando me agarrar em suas palavras sempre alegres que podem me servir de consolo, e na última página, uma última história não iniciada mas com um simples título começava a ser escrita: “Ao Meu Grande e Único Amor”.

1single: “Reckless Child” da banda Milky Chance

1trailer: filme “Small Things Like These”

Cillian Murphy vai estrelar filme produzido por Ben Affleck e Matt Damon: um dedicado pai e comerciante de carvão Bill Furlong que, durante o Natal de 1985, “descobre segredos surpreendentes guardados pelo convento da cidade, junto com algumas verdades chocantes de sua autoria”.